Vamos ao cinema? | São Jorge
Nascido de um sonho antigo, por parte do premiado e talentoso ator Nuno Lopes, em interpretar a história de um pugilista, e mais uma vez ao lado do realizador Marco Martins (tinham trabalhado juntos, em 2005, no filme "Alice", e não só), eis que vemos nas salas de cinema portuguesas o filme “São Jorge”.
“São Jorge” dá-nos a
conhecer a vida de Jorge (Nuno Lopes), um desempregado e pugilista, que já teve
melhores dias, e que o pouco que ganha nos combates, mal dá para as despesas.
Um homem pouco letrado, em risco de perder o filho Nelson (David Semedo), com
dívidas, que vive num dos bairros mais empobrecidos da Margem Sul, que, ironicamente e por força das
circunstâncias, se vê obrigado a integrar uma empresa de cobranças difíceis. Algo "normal" neste tipo de profissão, ou seja, muitos pugilistas ganham a vida a cobrar dividas a outras pessoas.
De notar o desconforto de Jorge ao visitar cada um dos seus “alvos”, uma vez que também ele, Jorge, tem dívidas para pagar mas não "sabe" como salda-las.
De notar o desconforto de Jorge ao visitar cada um dos seus “alvos”, uma vez que também ele, Jorge, tem dívidas para pagar mas não "sabe" como salda-las.
Jorge vive com o
filho Nelson e com o Pai (José Raposo) – um homem amargo, frio, com quem tem
uma relação difícil.
Temos conhecimento das condições onde Jorge vive. Há que referir que
este filme retrata as verdadeiras condições dos habitantes destes bairros - Bairro da Bela Vista, em Almada, e o Bairro da Jamaica, no Seixal. Ao
longo do filme vemos atores e não-atores, em perfeita simbiose, a debaterem os
mais variados assuntos, desde a crise presente no país, ao seu próprio futuro e
o das suas famílias: qual é o próximo passo? O que será que vai acontecer daqui
para a frente? Como é que isto irá melhorar? Estas “pequenas” cenas onde
não-atores se encontram presentes (mas de suma importância e significado para a transmissão da verdadeira mensagem do filme) passam despercebidas no meio do
filme. Quem não souber que não são atores, pensa que foram figurantes
contratados para dizerem determinadas falas. Não são! São moradores, com
histórias de vida reais, e que no filme nos dão a conhecer as suas inseguranças
e dúvidas quanto ao futuro.
Aqui levamos o primeiro murro
no estômago!
Num bairro de
ambiente violento e hostil, assistimos a uma antítese entre o protagonista e o
ambiente onde ele vive. Jorge é bondoso, tem ética e não consegue ser mau, para
além de não ter muita coragem. Um exemplo da sua bondade é o facto de, numa das suas
cobranças ao proprietário/chef (Gonçalo Waddington) de um restaurante, Jorge alimenta os peixes de
aquário que o mesmo possui.
Jorge é, assim, “um santo no inferno”.
Para termos uma ideia
do quão más são as condições de vida de Jorge e o quão endividado se encontra,
numa ida ao supermercado comprar o jantar para o filho, ambos passam por um
carrinho de compras abandonado (daqueles onde se coloca uma moeda para retirar
do “parque de carrinhos”) que, muito prontamente e sem hesitar, vão arruma-lo a fim de ficarem com a moeda.
Ficamos a perceber o desespero de Jorge em arranjar dinheiro, para
proporcionar uma vida melhor ao filho, para não o perder. Várias são as vezes
que Nelson comenta com o pai que, em conversa com a mãe, esta revela que vai
para o Brasil com ele. Nelson parece acreditar mais nessa realidade que Jorge,
que nega perante o filho que isso vá acontecer e tenta convencer-se a si mesmo
que o filho não vai para o Brasil com Susana (Mariana Nunes).
Várias são as vezes que vemos Jorge a tentar reconciliar-se com Susana durante o filme. No entanto, sem resultado. A fim de provar que está disposto a ser uma família, Jorge continua na empresa de cobranças difíceis, desconfortável, com pouca coragem, apavorado com a possibilidade de ser denunciado por uma das suas "vítimas", até que tem a sua "prova de fogo" - Jorge "assume a função" para a qual foi contratado. E aqui começamos a assistir a uma espiral de tormentas de Jorge. A vida de Jorge sofre umas quantas reviravoltas e o mesmo é obrigado a tomar uma decisão. Decidir que futuro dar à sua vida.
Ao fim desta pequena sequência de acontecimentos, enquanto espectadores, temos de estar bastante atentos ao desenrolar do filme (e do que aconteceu para trás) para conseguirmos ter noção do que realmente aconteceu/irá acontecer. É necessário nos lembrar de tudo o que aconteceu no filme: as conversas com o filho são de grande importância para esta parte. A última conversa de Jorge com Nelson no filme assume um papel vital e é aqui que nos "cai a ficha" e nos apercebemos do amor incondicional que Jorge sente pelo seu filho.
Sem falar muito, levamos com diversos murros no estômago ao longo do filme com as imagens que Marco Martins nos mostra, através da sua câmara inquieta (técnica que também vemos no filme "Alice", em 2005, com Nuno Lopes também como protagonista).
O final sem um desfecho conclusivo poderá ser uma metáfora para o quão incerto é o futuro do nosso país. Mais, diversas são as vezes que Jorge, em frente ao espelho, passa as mãos pela cabeça na esperança de se poder libertar de todos os problemas que possui, de forma a poder livrar-se do fardo que carrega diariamente sobre os seus ombros. Temos aqui, mais uma vez, uma metáfora.
"São Jorge" é um filme de visita OBRIGATÓRIA às salas de cinema. Toda a gente deve ver este filme. Se um dos objetivos do filme é aproximar o público português ao cinema português, de certeza que o vai conseguir!
Curiosidades a reter:
- Não é novidade para ninguém: Nuno Lopes conquistou o Prémio de Melhor Ator no Festival de Veneza Orizzonti em 2016
- Nuno Lopes, para este papel, teve que ganhar 10 kg de massa muscular, a fim de dar corpo (literalmente) a Jorge. De salientar que esta decisão de mudar fisicamente foi inicialmente, ideia de Nuno Lopes de forma a criar uma maior contraste entre o aspeto físico de Jorge (hostil, violento, ameaçador) com a sua personalidade (bondoso, um pai extremoso, cobarde). Após 9 meses de rodagem do filme, teve de perder todo o peso que ganhou para assumir o papel de "Matias" no filme luso-brasileiro "Joaquim", de momento no Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale). Ainda para "São Jorge", durante dois anos andou a preparar-se para o papel mas só nos últimos cinco meses praticou Crossfit e teve aulas de boxe, para dar uma maior credibilidade ao papel.
- Ainda sobre Nuno Lopes, no combate de boxe de Jorge, o oponente do mesmo é MESMO um pugilista, que deu pancada real ao ator.
- David Semedo (Nelson) é, na realidade, um habitante do Bairro da Bela Vista. Um miúdo simples, bem-educado, com bom coração. A inocência no olhar dele durante o filme não é fingida. É real.
Aqui levamos outro murro no
estômago.
Várias são as vezes que vemos Jorge a tentar reconciliar-se com Susana durante o filme. No entanto, sem resultado. A fim de provar que está disposto a ser uma família, Jorge continua na empresa de cobranças difíceis, desconfortável, com pouca coragem, apavorado com a possibilidade de ser denunciado por uma das suas "vítimas", até que tem a sua "prova de fogo" - Jorge "assume a função" para a qual foi contratado. E aqui começamos a assistir a uma espiral de tormentas de Jorge. A vida de Jorge sofre umas quantas reviravoltas e o mesmo é obrigado a tomar uma decisão. Decidir que futuro dar à sua vida.
Ao fim desta pequena sequência de acontecimentos, enquanto espectadores, temos de estar bastante atentos ao desenrolar do filme (e do que aconteceu para trás) para conseguirmos ter noção do que realmente aconteceu/irá acontecer. É necessário nos lembrar de tudo o que aconteceu no filme: as conversas com o filho são de grande importância para esta parte. A última conversa de Jorge com Nelson no filme assume um papel vital e é aqui que nos "cai a ficha" e nos apercebemos do amor incondicional que Jorge sente pelo seu filho.
Afinal, "São Jorge" é também a história do amor de um pai pelo filho.
"São Jorge" não se resume a um murro no estômago: "São Jorge" dá-nos uma tareia da cabeça aos pés.
O final sem um desfecho conclusivo poderá ser uma metáfora para o quão incerto é o futuro do nosso país. Mais, diversas são as vezes que Jorge, em frente ao espelho, passa as mãos pela cabeça na esperança de se poder libertar de todos os problemas que possui, de forma a poder livrar-se do fardo que carrega diariamente sobre os seus ombros. Temos aqui, mais uma vez, uma metáfora.
Curiosidades a reter:
- Não é novidade para ninguém: Nuno Lopes conquistou o Prémio de Melhor Ator no Festival de Veneza Orizzonti em 2016
- Nuno Lopes, para este papel, teve que ganhar 10 kg de massa muscular, a fim de dar corpo (literalmente) a Jorge. De salientar que esta decisão de mudar fisicamente foi inicialmente, ideia de Nuno Lopes de forma a criar uma maior contraste entre o aspeto físico de Jorge (hostil, violento, ameaçador) com a sua personalidade (bondoso, um pai extremoso, cobarde). Após 9 meses de rodagem do filme, teve de perder todo o peso que ganhou para assumir o papel de "Matias" no filme luso-brasileiro "Joaquim", de momento no Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale). Ainda para "São Jorge", durante dois anos andou a preparar-se para o papel mas só nos últimos cinco meses praticou Crossfit e teve aulas de boxe, para dar uma maior credibilidade ao papel.
- Ainda sobre Nuno Lopes, no combate de boxe de Jorge, o oponente do mesmo é MESMO um pugilista, que deu pancada real ao ator.
- David Semedo (Nelson) é, na realidade, um habitante do Bairro da Bela Vista. Um miúdo simples, bem-educado, com bom coração. A inocência no olhar dele durante o filme não é fingida. É real.
Quem me conhece sabe que eu não costumo dizer as coisas para "ficar bonito na fotografia" ou "para ser simpático". Digo as coisas com o máximo de sinceridade e de coração.
E é assim que digo que já acompanho a carreira de Nuno Lopes desde 2001 no "Programa da Maria", passando pelo filme "Alice" (que aqui fiquei a gostar ainda mais dele enquanto ator), pelos "Os Contemporâneos" (quem não se lembra do "Chato"? "Vai mas é trabalhar! Vai fazer qualquer coisa de útil para a sociedade!"), "O Último a Sair", entre outros e, mais recentemente, "Terapia", "A Noite da Iguana" e, agora, "São Jorge" e tem sido uma honra poder acompanhar a carreira deste excelente ator português que, de dia para dia, nos tem mostrado o que de bom temos em Portugal e o quão talentoso e esplêndido é.
A ti, Nuno, (e peço, desde já, desculpa pelo abuso de confiança em tratar-te por "Tu"), os meus Muitos Parabéns pelo trabalho que tens desenvolvido e espero sinceramente que nos continues a presentear com mais trabalhos como este ;)
Quem aí já foi ver este filme? Que acharam?
Contem-me tudo!
Até lá, bons post's ;)
Não é o meu tipo de filme, mas sem dúvida que é uma história muito boa ;)
ResponderEliminarAcho que é um filme que toda a gente deve ver pelo menos uma vez na vida ;) e sim é uma boa história!
EliminarRealmente deste-me uma boa ideia :D Obrigado!
ResponderEliminarNão conhecia mas, por acaso, fiquei bastante curioso acima de tudo com a mensagem que passas. E mais importante ainda será o esforço desmedido que é feito pelos atores para interpretar qualquer papel!
NEW FASHION POST | Trend Alert: Say HELLO to the NEW Minimal Style.
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Um bom actor mede se não só pelo desempenho mas também pela preparação e sacrifício que faz em prol do papel :) é um filme com bastante carga dramática e sem dúvida que vao haver pessoas a identificar se com o filme.
EliminarPS - eu dou sempre boas ideias xD
Quero tanto ver! E o Nuno Lopes é tão grande.
ResponderEliminarVai ver que não te irás arrepender acredita. Ele é um excelente actor. Gostava de o conhecer pessoalmente para ter a oportunidade de lhe dizer o quão grande ele é e quanto admiro o seu trabalho :)
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